Os Fantasmas de Nós Mesmos
Vidas Passadas (2023) | Crítica
“É verdade que se você deixar para trás, você perde coisas, mas também ganha coisas.”
Era uma vez os fantasmas do passado e certas almas ambulantes.
No vácuo da existência, confrontamos não apenas os rostos que um dia fomos, mas também as versões não vividas, os sonhos desfeitos e as promessas não cumpridas que nos assombram silenciosamente. São os fantasmas de nós mesmos que ficam murmurando “E se?…”
Em um delicado e encantador espectro entre o passado e o presente, somos levados a uma jornada introspectiva através de “Vidas Passadas”. Este filme, com sua poesia sutil, lança luz sobre os fantasmas que habitam não apenas nossas memórias, mas também nossas próprias identidades.
No centro da trama, encontramos um casal cujas vidas se entrelaçam desde a infância. Porém, à medida que o tempo avança — Nora, interpretada por Greta Lee, busca sempre seguir em frente, enquanto seu amigo Hae Sung, vivido por Teo Yoo — se transforma em uma espécie de alma penada, presa incansavelmente a algo fora de sua dimensão.
O reencontro desses dois personagens traz à tona uma colisão entre o movimento e a estagnação, entre a direção clara e os círculos viciosos, entre a vivacidade e o cinza da existência. Embora estejam ligados por laços emocionais, há um abismo que os separa, tanto metafisicamente quanto fisicamente.
Celine Song, em sua estreia na direção, apresenta uma narrativa com um toque de sutileza encantadora. Cada elemento na tela é meticulosamente empregado para transmitir a sensação de divisão, distância e ruptura entre os personagens. Desde os cenários até os objetos cuidadosamente selecionados, como a escadaria que se bifurca em duas direções, ou a estátua que parece servir como uma testemunha silenciosa do afastamento emocional.
O silêncio é empregado de forma contemplativa, onde as poesias de angústia e romance se desdobram. É através dos gestos, olhares e expressões dos personagens que somos convidados a ouvir essas emoções não ditas.
E é nesse caldeirão de emoções e reflexões que “Vidas Pasadas” atinge seu ápice, transmitindo a mensagem poderosa de que precisamos confrontar os fantasmas que assombram nossos corações. Seja para se despedir do passado, para concluir o inacabado ou simplesmente para compreender que, assim como há mortes metafóricas na vida, sempre existe a oportunidade de ressurgir e recomeçar.
“Vidas Pasadas” nos convida a mergulhar nas profundezas de nossa própria existência, onde os fantasmas do passado nos aguardam, ansiosos para serem confrontados e, finalmente, libertados.
Porque nossas almas são tão pulsantes quanto nossos corações, é por lá que tudo vibra, mesmo quando o ritmo de nossas vidas pareça lento.