Um Poema com Penas, Petróleo e Pedras
Assassinos da Lua das Flores (2023) | Crítica
“Você consegue encontrar os lobos nesta imagem?”
Era uma vez a poesia da lua das flores que se banhou em um rio escuro e rubro de petróleo e sangue.
Naquele instante trágico em que a Chapeuzinho Vermelho confunde o lobo mau com sua avó, somos transportados para a aflição. É como se um véu fosse levantado, revelando as complexidades ocultas por trás das aparências. Nesse momento, somos convidados a questionar nossas próprias percepções, refletindo sobre uma natureza poeticamente ambígua: quem são os lobos à nossa espreita?
Martin Scorsese, mergulha nas páginas de um romance fascinante sobre a ascensão e perdição da tribo Osage, levando os espectadores a um cenário onde o petróleo se mistura ao sangue. O filme se apresenta como uma poesia cinematográfica, uma narrativa em versos que tece as penas do destino, a cobiça sem fim e as pedras da injustiça e da tragédia.
O título, “Assassinos da Lua das Flores”, não é apenas poético, mas também essencial para compreender a maestria da direção de Scorsese, que permeia toda a narrativa com uma dubiedade envolvente. A dualidade é a essência da beleza aqui, refletida não apenas nos personagens, mas em cada detalhe cinza da história.
Lily Gladstone, como Mollie, entrega uma interpretação magistral, enquanto Leonardo DiCaprio e Robert De Niro acrescentam uma complexidade admirável.
Scorsese, conhecido por seu estilo de direção, desafia os espectadores a buscarem o sentimento na história, que reside na incerteza de cada personagem, e a verdadeira plenitude emocional só é alcançada ao entender a totalidade dessa poesia, a parte oculta e a seca.
O diretor não entrega respostas mastigadas; ele exige reflexão, é uma busca pelos lobos e seus disfarces em cada cena.
O filme, do início ao fim, provoca perguntas sobre a natureza dos personagens e a autenticidade do romance central.
Embora a trama pudesse ser mais enxuta nos personagens coadjuvantes, o casal protagonista, DiCaprio e Gladstone, merece todo o tempo que for necessário, devido à vastidão de possibilidades entre eles.
A investigação dos crimes na trama é o que dá origem ao FBI, mas essa parte é deixada nas sombras do drama.
O desfecho trágico é marcado por uma declamação especial com um tom de leveza insustentável.
E assim foi o poetizado o luar no céu sombrio que ilumina as flores, as mesmas que embelezam a vida, também enfeitam a morte.